Seitas e heresias Neotestamentárias
O Novo Testamento usa a palavra grega hairesis para identificar as seitas contemporâneas a Jesus. O apóstolo Paulo disse: “Conforme a mais severa seita da nossa religião, vivi fariseu” (At 26.5). Essa mesma palavra é usada para identificar os saduceus: “E, levantando-se o sumo sacerdote e todos os que estavam com ele (e eram eles da seita dos saduceus), encheram-se de inveja” (At 5.17). Observamos, portanto, que o judaísmo, que era a religião de Saulo antes de sua conversão, conforme Gálatas 1.13,14, congregava em seu bojo esses grupos religiosos que o próprio Novo Testamento chama de seitas.
Vejamos, a seguir, um breve delineamento de alguns desses grupos.
Os publicanos
Era uma classe imposta aos judeus pelos dominadores romanos com a missão de lhes coletarem os impostos. Os publicanos eram funcionários romanos odiados e escorraçados pelos judeus. Apesar disso, muitos judeus se tornaram publicanos devido à rentabilidade da profissão: o chefe dos publicanos, em Roma, impunha uma taxa e distribuía aos seus subordinados que, por sua vez, quadruplicavam e repassavam as taxas, e assim sucessivamente.
Mateus, também chamado Levi, antes de se tornar um dos apóstolos de Cristo e evangelista do Novo Testamento, era publicano (Mt 10.3).
Podemos observar o caráter depreciativo de um publicano para com os judeus nesses ditos de Jesus: “Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão. Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que, pela boca de duas ou três testemunhas, toda palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como gentio e publicano” (Mt 18.15-17).
Os escribas
Existiram no Antigo Testamento, porém, no Novo Testamento, aparecem formando uma classe religiosa. Quando voltou da Babilônia, Esdras se tornou um importante escriba: “Este Esdras subiu de Babilônia. E ele era escriba hábil na lei de Moisés, que o Senhor, Deus de Israel, tinha dado; e, segundo a mão de Senhor, seu Deus, que estava sobre ele, o rei lhe deu tudo quanto lhe pedira” (Ed 7.6).
Quando apareceram os fariseus e os saduceus, os escribas ficaram com os primeiros. Nos dias de Jesus, eram chamados de “doutores da lei”: “Ele [Jesus], porém, respondeu: Ai de vós também, doutores da lei, que carregais os homens com fardos difíceis de suportar, e vós mesmos nem ainda com um dos vossos dedos tocais nesses fardos” (Lc 11.46). Os escribas que se ocupavam do ensino eram conhecidos como rabi ou rabinos.
Os zelotes

Um dos apóstolos de Jesus Cristo é referido como “Simão, chamado Zelote” (Lc 6.15; At 1.13), ou por causa de seu zeloso temperamento ou por causa de alguma associação anterior com o partido dos zelotes. Paulo de Tarso, referindo a si mesmo, afirma que foi um zelote religioso (At 22.3; Gl 1.14), enquanto que os muitos membros da igreja de Jerusalém são descritos como “todos são zelosos da lei” (At 21.20).
Os herodianos
Formavam um partido mais político que religioso. Uma espécie de fraternidade em honra a Herodes, o Grande, iniciada com a morte dele. Pregavam incondicional fidelidade a Herodes quanto ao pagamento dos tributos, e consideravam Herodes como o Messias de Deus ( o próprio Herodes, após saber pelos reis magos do nascimento de um Rei fez de tudo para encontra-lo; não encontrando, se enfureceu e deu a ordem de matar todos os meninos). Julgavam que a lei de Moisés podia ser violada para se construir templos de idolatria aos romanos e seus imperadores – uma espécie de mistura de judaísmo com romanismo pagão. Eram aliados aos fariseus em oposição a Jesus, o que podemos ver em diversas ocasiões, uma delas, registradas no evangelho de Marcos: “E os fariseus, saindo dali, entraram logo em conselho com os herodianos contra ele, para o matarem” (Mc 3.6).
Judeus messiânicos
Muitos
caem no erro de achar que a mensagem do arrependimento de pecados foi
inaugurada por Jesus, no entanto desde de que o pecado entrou no mundo é
essa a forma que Deus usa para a salvação. No período
intertestamentário percebemos que haviam crentes sinceros que além de
serem pessoas arrependidas criam que o Messias iria chegar para nos
salvar. Creram que Jesus era o Salvador! O maior expoente deles está em João Batista; quando viu o Messias, declarou não ser digno nem mesmo de se abaixar aos seus pés (Mc 1:7).
Os essênios
Os essênios viviam afastados da sociedade, no deserto, concentrados em estudar o Pentateuco, jejuar, orar e realizar rituais de purificação, numa espécie de comunismo primitivo, no qual todos os bens eram de propriedade coletiva. Em suas sociedades, que, em geral, excluíam mulheres, observavam rigorosamente os mandamentos de Moisés e obedeciam a uma estrita regra de disciplina, codificada em manuscritos, que regulava todos os detalhes da vida diária. O surgimento da seita ocorreu numa época em que a classe alta de Jerusalém, na Palestina, estava sob forte influência da cultura grega — racional e pagã. Uma das consequências da influência foi o afastamento do governo judeu local de alguns grupos religiosos, que pregavam a defesa de costumes mais tradicionais desse povo.No final da década de 1940, a descoberta de centenas de manuscritos atribuídos aos essênios em cavernas na região do mar Morto despertou a esperança de que o material pudesse confirmar finalmente a ligação entre a seita e os primeiros cristãos. Entretanto, após décadas de trabalho e controvérsias, a tradução integral dos manuscritos do mar Morto foi completada em 2002, mas não havia nenhuma referência direta a Jesus, a João Batista e/ou aos primeiros cristãos. Os essênios, provavelmente, foram exterminados pelos romanos ou obrigados a deixar suas comunidades e fugir para salvar suas vidas, por volta do ano 68 d.C.
Os fariseus
Um dos discursos de censura mais eloquentes de Jesus foi a eles dirigido: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos e de toda imundícia” (Mt 23.27).
Os samaritanos
Era a classe mais odiada pelos judeus. Sargão, rei da Assíria, levou cativos os judeus do norte e, para Samaria, levou povo estrangeiro. Esse povo era idólatra. Nos tempos de Jesus, aumentou o conflito, tendo-se em vista a construção de um templo rival no monte Gerizim. De tal maneira se acentuaram as rivalidades entre eles, que os judeus consideravam os samaritanos como cães. Essa dissensão entre judeus e samaritanos fica explícita no diálogo de Jesus com uma mulher perto do poço de Jacó:Os saduceus
A seita dos saduceus era pequena, porém muito conceituada, pois os membros que a integravam eram ricos e influentes. Eram mais políticos do que religiosos, e tinham bastante conceito entre os romanos. Eram os céticos, os materialistas, os livres pensadores dos dias de Jesus. Não acreditavam na ressurreição, na imortalidade da alma, nos anjos, na providência divina; rejeitavam a tradição oral e interpretavam a lei e os profetas diferentemente dos outros. Foram arduamente repreendidos por João Batista: “Mas, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus que vinham ao seu batismo, disse-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira vindoura?” (Mt 3.7).
Quanto à crença dos saduceus, é explicitada num diálogo com Jesus em que o mestre, de maneira muito inteligente, responde a uma arguição sobre a ressurreição enfatizando também a existência dos anjos: “Respondeu-lhes Jesus: Porventura, não errais vós em razão de não compreenderdes as Escrituras nem o poder de Deus? Porquanto, ao ressuscitarem dos mortos, [as pessoas] nem se casam, nem se dão em casamento; pelo contrário, são como os anjos nos céus” (Mc 12.18-25).
Os gnósticos
Influenciado por filósofos como Platão, o Gnosticismo é baseado em duas premissas falsas. Primeiro, essa teoria sustenta um dualismo em relação ao espírito e à matéria. Os Gnósticos acreditam que a matéria é essencialmente perversa e que o espírito é bom. Como resultado dessa pressuposição, os Gnósticos acreditam que qualquer coisa feita no corpo, até mesmo o pior dos pecados, não tem valor algum porque vida verdadeira existe no reino espiritual apenas. Seu conceito já existia na época de Jesus, porém foi mais forte no início da igreja primitiva.
Para o gnosticismo tudo que é material
foi criado pelo deus mal e deve ser desprezado; assim, por exemplo, o
casamento e tido como mau porque através dele o homem (corpo) se
multiplica. Paulo combateu isto em 1Tm 4,1. Tudo o que é
espiritual teria sido criado pelo deus bom.
Segundo ainda o gnosticismo “cristão”, o
Deus bom , Supremo, teria enviado ao mundo o seu mensageiro, Jesus
Cristo, como redentor (um eon), um Avatar, portador da gnósis, a
palavra revelada a alguns escolhidos e que leva à salvação (libertação
do corpo). Jesus não teria tido um corpo de verdade, mas apenas um corpo
aparente (docetismo); doceta em grego quer dizer aparente. Jesus teria
então um corpo ilusório que não teria sido crucificado. S. João combateu
isto em suas cartas (cf.1 Jo 18,-23)
O gnosticismo acredita também na reencarnação para a salvação da pessoa; vê-se então, que é radicalmente oposto ao Cristianismo.
O gnosticismo acredita também na reencarnação para a salvação da pessoa; vê-se então, que é radicalmente oposto ao Cristianismo.
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